O poder do NÃO no desenvolvimento infantil

O poder do NÃO no desenvolvimento infantil
Não é de hoje que atendo pais e educadores no meu consultório, onde me dizem que não estão conseguindo lidar com os problemas causados por comportamentos inadequados de crianças e adolescentes. Consequentemente, claro, acabo atendendo crianças e adolescentes. que simplesmente não sabem lidar com frustrações.
Atualmente, temos uma quantidade imensa e muito significativa de crianças e adolescentes com baixa autoestima, com problemas de ansiedade, depressão, frustrações mal resolvidas entre outros transtornos, pelo simples motivo de nunca terem ouvido um NÃO de seus pais. E, infelizmente, hoje temos várias linhas educacionais implantadas em escolas que também cometem o mesmo erro, onde utilizam de filosofias que são contra o NÃO e dizem que a educação emocional ou a inteligencia emocional dependem de utilizar outros meios e palavras para estimular a criança ou adolescente a pensar e a não cometer erros.
Muitas metodologias educacionais, inclusive, são usadas e interpretadas de forma errada, muitos educadores e pais acabam cometendo erros ainda maiores pelo simples motivo de não saberem utilizar o bom NÃO quando necessário.
Crianças que nunca ouvem um NÃO, são mais propensas a apresentarem problemas em não saber lidar com as frustrações, se sentirão perseguidas, excluídas, sozinhas, rejeitadas e poderão, inclusive, apresentar problemas de relacionamento nos diversos momentos da vida. Emocionalmente, não terão equilíbrio necessário e tendem a desistir com facilidade de tudo que parecer complicado, difícil e demorado.
Nos relacionamentos interpessoais se revoltam por qualquer motivo, no decorrer da vida podem sofrer com muitas situações que aparentemente não são complexas para resolver, mas irão ver empecilhos em tudo.
Na verdade dizer NÃO para a criança é um ato de amor. Apesar de nem sempre ser tão fácil negar coisas para nossos filhos, um simples NÃO traz consigo importantes ensinamentos, como paciência, reflexão, momento de espera, continuidade, expectativa, objetivos etc.
Negar algo para a criança ou adolescente não significa que você deve ser ríspido ou que ela/ele deve ter medo de você. O NÃO deve ser feito com base em uma decisão significativa. Por exemplo, quando a criança pede para comprar um brinquedo e você, conscientemente, nega, sabendo que não tem dinheiro naquele momento. Você não precisa negar em tom de repreensão, mas sim em tom de conversa, inclusive explicando o motivo que te fez tomar a decisão.
Claro que nenhum pai ou mãe quer ver seu filho chorando, sofrendo ou se frustrando, mas isso é algo que inevitavelmente vai acontecer. Ao tentar satisfazer todas as vontades da criança ou do adolescente não estamos evitando suas frustrações e sentimentos negativos, ao contrário. Estabelecer regras e dar limites para uma criança ou um adolescente é sem dúvidas ajudá-los a se preparar para a vida adulta. Afinal, de que adianta receber "SIM" dos pais a vida inteira e, receber diversos "NÃOS" da sociedade sem ter aprendido como lidar com o sentimento ruim que isso gera? Na vida adulta, serão pessoas que não conseguirão lidar com seus relacionamentos amorosos, profissionais etc, pelo simples motivo de acharem que suas ideias e vontades devem prevalecer e serem sempre atendidas ou levadas em consideração. Serão pessoas, mais egoístas.
Mas, o pior, realmente, é o transtorno e/ou doença mental causados pela falta de discernimento de não saberem lidar com os NÃOS em alguns momentos da vida. Há uma quantidade alarmante de adolescentes que cometem SUICÍDIO por acharem que não conseguirão lidar com frustrações. Muitas vezes, a noção de morte é banalizada onde a supervalorização da sua frustração e sofrimento por algo que queria e não conseguiu toma uma proporção na vida deste sujeito que ele/ela acha melhor acabar com o que esta sentindo, ou ainda, utiliza a sua morte como punição para os pais e outras pessoas do seu convívio, justamente por algo que lhe foi negado.
Além do NÃO, é necessário perder de vez em quando. Crianças que não conseguem perder, não sabem ficar em segundo ou terceiro lugar em competições apresentam sintomas que precisam ser analisados e ter intervenções adequadas. É importante para a criança, saber que perder faz parte de um processo de sucesso. Nem sempre se ganha, as vezes a gente também perde e, saber que perder também é uma possibilidade faz com que ele/ela saiba lidar com o erro sem se cobrar tanto, sem neuras, sem culpa, sem sobrecarga.
Estou proibindo demais? Estou sendo muito permissivo (a)? Deveria ser mais rigoroso (a)? Ou talvez pegar mais leve? Estas são as perguntas que nos fazemos, enquanto pais, mães e educadores. Saber os limites na criação dos filhos e na educação dos alunos é um desafio e tanto, pensar se esta fazendo a coisa certa é inevitável, sendo uma questão que mexe com todos nós. Afinal, conforme nossos filhos/alunos crescem, cresce também sua autonomia e as situações em que querem fazer valer suas próprias vontades se tornam cada vez mais frequentes. É exatamente aí, que entram as regras, os limites e a rotina, tudo em harmonia, sem exageros e sem punições drásticas e severas.
Regras, limites, rotina e amor, quatro pilares para a saúde mental tanto dos pais/educadores quanto dos filhos/alunos, neste relacionamento.
Inclusive, enquanto pais, precisamos nos atentar a superproteção que hora ou outra damos aos nossos filhos, como por exemplo, se ele bate em um amiguinho na escola, tentamos justificar seu comportamento dizendo que o amigo fez alguma coisa para ele e ele apenas se defendeu. Será que realmente, precisamos supervalorizar a sua defesa? Ou para o seu desenvolvimento coerente seria melhor dizer a criança que seu comportamento não foi adequado e que poderia pedir a ajuda de um adulto, no caso o professor, para resolver? Veja bem, não queremos que nossos filhos se tornem "sacos de pancada", mas orientar a bater ou supervalorizar um comportamento inadequado é totalmente errado. Essa criança terá problemas futuros ao reforçar esse comportamento negativo. Com o passar do tempo teremos que agir com intervenção terapêutica ou até psiquiátrica, para um comportamento aprendido.
A pirraça da criança diante do NÃO
Em geral, a criança vai fazer pirraça quando é privada de algo que ela quer ou quando for contrariada. Em seguida a criança começa a fazer "birra" para chamar a atenção. Vai chorar, gritar, bater, se jogar no chão, se debater, etc. Neste ponto o seu filho/aluno já perdeu o autocontrole.
Não se desespere. Respire fundo e vamos lá! Aqui estão alguns passos para ajudar a acalmar a criança. Se o passo 1 não funcionar, tente o passo 2 e assim sucessivamente.
Passo 1: não dê atenção a comportamentos indesejáveis;
Passo 2: peça para a criança respirar, se acalmar;
Passo 3: coloque ela num canto para pensar ou tire a criança do ambiente que a deixou tensa, converse com ela se achar que o momento é propicio;
Passo 4: mude de assunto, mude o foco, faça outra coisa, coloque uma música, chame a criança para ajudá-lo em algo. Se a pirraça se transformou numa crise nervosa, muitas vezes a criança demora pra se acalmar. Depois que ela se acalmou, pode ser que ela ainda chore "lembrando" da tristeza que ela sentiu. Pode ser que ela nem se lembre do que aconteceu. Nesse momento é importante distrair a criança com alguma coisa. Conte uma piada, fale de um personagem que ela goste, faça cosquinhas, enfim, vale qualquer coisa pra ela dar um sorriso e sair do estado emocional que ela se encontra;
Passo 5: peça ajuda. Se você está super cansada (o) e estressada (o), muito provavelmente você não é a pessoa mais indicada para ajudar o seu filho/aluno neste momento. É muito normal nós ficarmos frustradas por causa disso, mas, as vezes sair de cena e chamar alguém próximo pode ser uma saída menos sofrida pra todo mundo. Isso não é o fim do mundo e você terá muitas outras oportunidades de ajudar o seu filho/aluno quando estiver se sentindo melhor. Por isso, não é errado, por exemplo, enviar seu aluno para o orientador educacional ou coordenador pedagógico, até que ele se acalme e pense no comportamento errado que teve.
Lembrem-se, o NÃO é uma "vacina" que dá "anticorpos" para lidarmos com as adversidades da vida. É totalmente importante, para que possamos lidar com nossas angustias e frustrações. A família educa e a escola reforça esta educação, através dos eixos: educar e cuidar. Ou seja. somos todos responsáveis pelos seres humanos que teremos no futuro.
Aliás, se queremos que nossos filhos/alunos tenham controle emocional em suas ações e comportamentos é necessário que também tenhamos.